Meu Pai

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Meu pai,

Hoje é o Dia dos Pais, o dia em que todas as atenções se voltam para aqueles que junto com as mães, em uma conjugação de amor, nos trouxeram para cá. O holofote do comércio ilumina e nos faz pensar um pouco mais naquele amor que temos por garantido e que, por isso, esquecemos de agradecer. Pai é como o ar. Muitas vezes só na sua falta, nós damos atenção à sua presença.

Então, paizinho, eu quero aproveitar esse hoje, e a tua presença, para te agradecer e nesse agradecimento dizer o quanto te amo.

Obrigado, antes de tudo, por ser um pai sem igual. Que me desculpem o lugar-comum e os outros filhos, mas o meu pai é o melhor pai do mundo. Sei que haverá divergências, até compreensíveis, mas continuarei achando, mesmo respeitando a opinião dos outros filhos de outros pais. É porque vocês não são filhos do meu pai. Se vocês fossem vocês saberiam. Mas, independente de nossa divergência, curtam seus pais como eu curto o meu agora, hoje, nesse dia dedicado a ele. Mas o meu é o melhor que poderia ser. Sem dúvida.

Pai, obrigado por ter um coração maior do que teu amor pelo Botafogo. Pai, não conheço ninguém tão bondoso. Nunca conheci e tenho certeza que jamais conhecerei. Alguém que sente prazer em servir o próximo. Alguns que têm a incapacidade da generosidade despeitadamente te chamam de besta por essa disponibilidade aos outros. Eu te chamo de exemplo. Eu te chamo de bom. Eu te chamo de pai. Meu pai, tu és um homem bom. Obrigado por ser uma pessoa boa. Que belo exemplo de bondade eu tive e tenho na vida. Teu corpo é feito de coronárias. É um grande coração bondoso no qual circula um sangue que pulsa pela vida.

Pai, obrigado. Do teu jeito pouco falante para essas coisas, sei que desejas e sempre desejaste, como na música de Roberto Carlos, querer ver teus filhos pisando firme, sorrindo alto, cantando livres. Nós, cada um a seu modo, pisamos firme porque tivemos tua mão – junto com a da mãe – a nos segurar em vários momentos, justamente naqueles em que mais precisávamos. E não a tivemos na hora em que, paciente e sabiamente, vocês saiam de cena para que pudéssemos alçar voo solo. Sorrimos, todos, meu paizinho, bem alto. Gargalhamos com o coração. Temos luxações na articulação tempro-mandibular de tanta felicidade. Somos uma família feliz. O que podemos querer mais? O resto é bondade de Deus. É bônus. E cantamos livres, cada um no seu tom, as músicas de respeito, de sacação em relação ao mundo e às coisas, de espirituosidade sem igual. Meu pai, além de tudo, ainda é ídolo de vários primos meus por seu raciocínio rápido e tiradas memoráveis e inesquecíveis. Raciocínio rápido que nos foi passado em sua herança genética puro-sangue e que tanto faz a diferença em nossas vidas. Somos filhos de seu Jefferson. Isso é uma baita carta de apresentação para nós. E um grande motivo de orgulho.

Pai, obrigado por mostrar que filho é filho. E o que importa é a felicidade dele. Essa lição eu aprendi e vou levar na condução da vida das minhas. Mil sacrifícios, trânsito caótico para deixar e apanhar, esperas de horas no carro porque o filho estava estudando. Não me esqueço disso nunca, paizinho. Meu pai me esperando no carro uma hora e meia, toda terça e quinta à noite, enquanto estudava inglês. Tudo isso para eu não voltar de ônibus tarde da noite sozinho. Quanto amor, quanta dedicação. Que pai invejável! Que pai lindo! E ele é meu.

Pai, obrigado pela torcida e pela participação total nas grandes e pequenas coisas. Nos campeonatos de futebol de campo da escola, lá estava seu Jefferson na arquibancada com a camisa do time. Nas gincanas colégio-contra-colégio, lá estava seu Jefferson correndo atrás de ouriço de castanha, objeto da gincana, como se fora sua vida. E era sua vida. Eram seus filhos que estavam competindo ali. Nos campeonatos de futebol de mesa, aqui em Manaus ou pelas mesas de Brasília, Juiz de Fora, Santo Antonio da Platina, São Paulo, Rio, lá estavam os gritos rasgados de gol, com uma vibração de pai, ao ver a bola de feltro bater no fundo da rede dos adversários. Confesso que torcia para marcar um gol só para te ver vibrar por mim. Isso me fazia mais bem do que próprio gol marcado. Nas aprovações em concursos, provas, testes, lá estava o abraço de vibração e o punho cerrado no ar, como a dizer “Eu sabia! Esse é o meu filho!”.  E no fundo, tu sempre soubeste, né, pai? Claro, pois fizeste parte da criação de filhos que valorizam o amor, o respeito pelo próximo e o estudo. Como guardo a alegria dos teus olhos quando te falei que havia sido aprovado na seleção do doutorado na Unicamp. O orgulho de mais uma missão cumprida, a despeito das dificuldades dessa vida que tanto te maltratou. Mas esses maltratos foram, sabiamente, transformados em lições de vida e não em amargura, viraram combustível para andar, para mover, seguir em frente, e não para queimar, destruir.

Pai, obrigado. Obrigado pela preocupação sempre presente com nossa felicidade, nosso bem estar, nossa alegria. Em cada momento difícil, teu silêncio de solidariedade é percebido de forma especial. As palavras são guardadas, mas os sentidos do seu silêncio são gritados. A agonia da dor compartilhada é minimizada nesse teu silêncio solidário. Basta saber que meu pai está ali, quieto, mas prestando uma atenção danada, que a dor é diminuída substancialmente. Um pai-esponja. Absorve as dores do mundo para si e diminui as que a gente sente, sem dizer uma palavra, mas falando demais pelos gestos, pelo pão quente comprado e anunciado a cada dia, pelo jornal trazido diariamente e entregue nas mãos, como a dizer: “Toma, esse é o mundo, meu filho. Coma pão e veja o circo”. Isso, de pão e circo a vida é feita, não é, pai. Eu aprendi, viu? Panem et cinrcenses. Trabalho honesto e felicidade, ligados, enredados, como uma coisa só, indissociáveis.

Paizinho, meu paizinho… tenho tanto para falar que eu escreveria duas mil páginas. Mas vou dizer algumas coisas que sempre me fazem sentir, de uma forma ou de outra, orgulhoso de ser teu filho. Fico fascinado com teu amor pelo Botafogo, por tua capacidade de saber o nome de todas as repórteres bonitas da televisão, anunciando seus nomes antes da emissora. Fico encantado com as soluções que tu achas para as situações nas quais quase todo mundo jogaria a toalha muito facilmente. Fico deslumbrado com teu pensamento e tuas tiradas rápidas, que em dobradinha com teu senso de humor sem igual, fazem do nosso dia-a-dia um dia-a-dia muito mais alegre e feliz, dos nossos almoços em família o melhor momento do dia. Fico realmente, pai, aqui a pensar sobre a tremenda responsabilidade de ser pai nesse mundo. Como conseguiste e consegues fazer tudo isso de forma competente…

O Paulo é pai. O Mauro é pai. Eu sou pai. Os três filhos somos pais. Podemos nos dizer completos. Temos um pai maravilhoso e filhos para demonstrar e devolver a eles o amor que recebemos desse pai maravilhoso que nós temos. Temos coisinhas que dependem de nós, frágeis, inseguras, começando a vida, nos enchendo de porquês. Nossos filhos têm o privilégio de brincar de carneirinho-carneirinho e de cavalinho contigo. Meu pai é doce como um carneirinho e forte para a vida como um cavalinho, que corre e nos leva no lombo pelos prados da vida, incansável, belo.

Assim, que com esses exemplos eu possa torcer por minhas filhas, como no comercial do Gelol. Melhor, como no exemplo do seu Jefferson, que inspirou o comercial. No dia-a-dia nosso, meu e das meninas, pensar: como o meu pai faria nessa hora? E saber que ali, na resposta para essa pergunta, estará o melhor fazer do mundo. Saber que meu filho será feliz, por isso. Se eu conseguir, pai, ser um pouco Jefferson  nesse papel em que fui posto na vida, uns dez por cento de ti basta, minhas meninas vão viver no mundo pisando firme, cantando alto e sorrindo livre. Como eu vivo. Graças a meu paizinho-paizão, essa bênção de Deus, sempre tão bom comigo, apesar de às vezes eu demorar a entender suas linhas. Sou muito feliz graças a ti, meu pai, meu querido, meu velho, meu amigo. Fica aqui por muito tempo, tá? Ainda há muito mais a aprender contigo. Ainda há muitos netos ansiosos pelo teu colo, pelo teu beijo, pelo teu amor.

Feliz Dia dos Pais. Eu te amo, meu pai. E vou te dizer isso todos os dias até a hora em que Deus disser que está na hora do nosso voo solo. Depois vou te dizer isso todos os dias. Eu e minhas filhas, olhando para a estrela mais brilhante do céu e dizendo, dedinhos apontando para cima, “eu te amo, pai”, “nós te amamos, vovô”.

Do filho que os outros dizem, ingrata e injustamente, ser o preferido.

Dinho.

2 comentários em “Meu Pai

    Cassandra disse:
    14/08/2011 às 11:33

    Não poderia deixar de comentar, já que o meu pai, o Deusdedith, já está ” no andar de cima”. Dia dos Pais para mim é de doce lembranças e uma forte saudade porque trago dele, do meu pai , muito impregnado na minha vida..no meu dna e na forma como educo meus filhos. Beijos, pai, com muito amor e gratidão.

    Tatiane disse:
    15/08/2011 às 00:19

    Emocionou. Parabéns, Sérgio. Saúde para o ilustre Sr Jefferson que assim como o meu pai, criou filhos saudáveis e de bom coração. Um abraço.

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