Tempo
Ontem o tempo voava, escorria pelas mãos. Hoje o tempo vem e vai à velocidade dos zeros e uns, à velocidade da luz. Nossos olhos acostumados não o veem mais porque não têm fôlego para acompanhar o novo tempo, esse alucinado. Por mais destras que sejam, nossas mãos não conseguem mais pegá-lo, nem pelo instante ilusório um pouco antes de ele se esvair por entre os dedos. Porque ele não se esvai mais. Ele é impegável. O tempo, que já foi sólido lá atrás, acaba de deixar de ser líquido: agora ele é holográfico. O presente foge em fast forward e o futuro não passa de um desejo abstrato, uma ficção. Tudo é já sempre passado. Por isso estamos todos correndo para a nostalgia ou um mashup dos tempos, num steampunk que alivie as dores. Para lidar com o inelutável, nos resta viver pela intuição. Assim, perdemos menos a vida, que, como de costume, segue os caprichos do tempo.