Vida que segue.
“Em silêncio eles sabiam o que queriam. E fizeram o que queriam. Naquele lugar onde somente seus próprios corpos nos espelhos eram suas testemunhas, eles perderam a vergonha, as roupas, o fôlego, a noção do tempo. Mãos espalmadas e entrelaçadas se apertavam num balé sincronizado de músculos relaxadamente tesos. As bocas tocavam-se finalmente, sentindo o sabor do hálito quente, termômetro dos quereres do corpo. Largaram-se lascivos à luxúria. Ele com a sede de marujo. Ela com a entrega das mulheres de Atenas. Ele, um servo dos desejos dela, obedecendo todas as ordens dadas em gritos ou sussuros. Ela, uma tocha de luz incandescente a queimar-lhes as entranhas de puro desejo, seus longos cabelos a varrer-lhe o rosto num vai e vem infinito como as ondas do mar. Exploram-se como bandeirantes de terras alheias. Conheceram-se em todos os sentidos e em várias profundidades. Foram ao Everest do prazer. E foram embora. Ela ainda tinha de fazer o jantar em casa para o marido. Ele ainda tinha de comprar o ovo de Páscoa da esposa. O dia acabou e começou de novo quando o sol nasceu.” SF