o tempo

Que acabe o que terminou…

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“Relacionamentos terminam. É preciso também que acabem. É doloroso aceitar que alguém que fez parte total de nossos planos, de nossos sonhos, de nossa cama se foi. No entanto, sem deixar ir, nós é que não vamos a lugar nenhum. Não faz bem permanecer onde não pertencemos mais. O tempo passa e o lugar já não é mais o mesmo, as cores das paredes mudam, os cheiros dos espaços se transformam. Outros terão prioridades para sentar no sofá que era nosso, para beber o cafezinho na cozinha em que nós um dia tomamos o café da manhã seguinte à noite boa, da qual não somos mais protagonistas. Ser coadjuvante da história afetiva alheia é muito pouco para quem quer ser feliz. Mas só há protagonismo amoroso quando permitimos que os relacionamentos que terminam acabem e sigam o seu rumo. Seus mapas e roteiros não devem mais nos interessar. Precisamos desenhar os nossos mapas e roteiros, com nossa bússola, para navegar com a nossa nau no nosso rio, com nosso novo marujo, que está a nos esperar com a mão estendida na ponte de acesso.” SF

Arqueólogo de si

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“Era uma pessoa muito apegada ao passado. Nostalgia e saudade de um tempo que se foi. Sabia que a memória tecia sua personalidade. Pessoas, fotos, fatos, músicas que passaram e ficaram. Sabia que que essa melancolia era uma forma de ocupar o tempo para não pensar no futuro. Também sabia que alguns amigos seus, que alegam não gostar de museus e que afirmam que não querem viver no passado, se exilam como ele, mas um exílio no futuro. Recusam-se a falar do passado, afirmam a necessidade de viver para o que ainda vem. Não é que eles não tenham pessoas, fotos, fatos, músicas  em sua história. Não é que eles não tenham história. Eles têm é  medo de ter de ver, ouvir, sentir o que passou, ainda que inconsciente. Suas histórias bagunçam suas certezas, incertas se trazidas às suas raízes. Não falar sobre não significa que não existe a presença da coisa calada. A presença que se faz mais forte é que se apresenta pela falta. O futuro não existe. O presente vira passado no segundo seguinte. Só o passado existe. Por isso ele gostava de fazer arqueologia dos seus sentidos…” SF

Relatividade…

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“Era um jovem ambicioso. Queria ganhar o mundo, ser rico, poderoso. Aquilo era sua obsessão. O tempo foi passando. Veio a família, os filhos, a segurança do emprego. As viagens em família. O sorriso dos filhos ao chegar em casa. O carinho da esposa, abraçada sob o edredom. O cachorro mordendo o seu calcanhar querendo atenção. Sua ambição era agora ser feliz. Já ganhara o mundo quando ganhara filhos. Já era rico porque tinha saúde para rir com os seus. O poder do seu amor dava segurança àquela família. O tempo redimensiona conceitos…” SF